No século XVI, época da Reforma Luterana, se alguma pessoa perguntasse “o que eu devo fazer para ser salvo?” a igreja respondia com base nos escritos de Tomás de Aquino: “faça o que está ao teu alcance”. A igreja da época ensinava que a salvação é um processo que acontece dentro de nós a medida que nos aperfeiçoamos. Em outras palavras o ensino que vigorava era o de que nós nos tornamos justos à medida que realizamos atos justos, que fazemos boas obras. No entanto, este ensino, além de não ser bíblico também deixava as pessoas inseguras com relação a certeza de salvação. Todos se perguntavam: “Como posso saber se fiz o melhor que pude?”
Em resposta a essa insegurança a igreja ensinava o povo a fazer ainda melhor: “Quando estiver em dúvida sobre a sua salvação, examine a si próprio para determinar se você fez o melhor que pôde, e a seguir dedique mais esforços para alcançar o melhor possível”.
Esta incerteza de salvação pelas obras também atingiu Martinho Lutero. Em sua busca pela salvação de sua alma ele ingressou num mosteiro. Lá ele desejava dedicar todos os seus esforços para ser salvo, e assim procedeu. Entre as seis celebrações religiosas de cada dia, que começavam as 2 horas da manhã, Lutero encaixou seções de oração, meditação e exercícios espirituais intensos. Ele desejava se tornar aceitável a Deus. Certa vez afirmou: “Eu me torturava com orações, jejuns, vigílias e congelamento”. Entretanto, por mais que Lutero se dedicasse e fizesse o melhor que podia suas obras não lhe davam a certeza que ele buscava em relação a sua salvação eterna.
Em seus intensos estudos da Bíblia Lutero enfim compreendeu o plano de salvação de Deus. Ele aprendeu que a justiça de Deus não é uma exigência a ser cumprida por meio de realizações, mas sim um dom a ser aceito por fé. Por meio da Escritura Sagrada Lutero convenceu-se de que o mérito no que diz respeito a salvação não está nos atos de uma pessoa, mas sim na ação de Deus.
Diante desta descoberta, que trouxe paz e segurança à Lutero, ele desenvolveu o princípio da “sola gratia”. Sola Gratia é uma expressão latina que significa: “Somente a Graça”. Ou seja, o ser humano é salvo unicamente e exclusivamente pela graça de Deus sem nenhum mérito ou dignidade de sua parte. A salvação, portanto, não pode ser conquistada por nossos esforços e boas obras. Mesmo se déssemos o melhor que pudermos, ainda assim nossas obras são insuficientes. Somente a obra de Deus é capaz de nos resgatar do pecado e nos dar a salvação eterna. O mérito é todo dele.
Conhecendo a graça de Deus podemos ter a certeza de salvação, pois somos salvos não por nossas obras mas pela obra de Cristo na cruz. Nossas obras não são perfeitas, mas a obra de Cristo é perfeita. Isso traz conforto ao nosso coração e a nossa alma. Jesus providenciou tudo para a nossa salvação. Ele deu a sua vida para o nosso benefício. Basta que creiamos nele e em sua obra salvadora. Mas, o assunto fé é o terceiro pilar da Reforma. Sobre isso trataremos em outra postagem.
Fonte: Lindberg, Carter. As Reformas na Europa. Ed. Sinodal, São leopoldo, RS.
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