sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Somente a Escritura

Estamos no mês da Reforma Luterana e nada melhor do que refletirmos um pouco mais a respeito desta obra tão importante para a igreja cristã. Normalmente se diz que a Reforma Luterana é sustentada por três pilares: somente a Escritura, somente a graça e somente a fé. Mas o que isso significa? Hoje veremos o primeiro destes pilares: Somente a Escritura.

No século XVI, época em que Martinho Lutero viveu, a igreja se encontrava totalmente transformada de sua estrutura primitiva. No centro da cristandade erguia-se a figura do papa. Este declarava para si a posse das cidades e territórios, lutava com exércitos próprios em guerras civis, empunhava contra os rebeldes as poderosas armas da excomunhão, modificava a seu bel-prazer a lei e o evangelho e possuía a seu serviço uma classe especial da sociedade: o clero. Toda a igreja nada mais era do que uma imitação religiosa do Império Romano, sem nenhum fundamento bíblico.

O povo, em geral, achava-se completamente submerso e esmagado debaixo da poderosa organização eclesiástica. Completando o cativeiro das almas, a igreja fechava a Bíblia ao povo. Nenhum leigo tinha acesso à Palavra de Deus. Não havia mais certeza da salvação.

A história nos mostra que a Bíblia era acorrentada nas bibliotecas de modo que ninguém tivesse acesso à mesma, e ainda que o povo tivesse acesso, não a conseguia ler, pois era escrita em latim e as missas também eram rezadas nesta língua.

A igreja romana colocava o papa acima dos concílios e a tradição acima da Escritura. Como se isso não bastasse, também afixaram a razão acima da Bíblia. Com a racionalização da fé, as doutrinas bíblicas foram completamente deformadas. O espírito que dominava a igreja não era bíblico, mas sim um código de leis que envolvia toda a ideologia ambiciosa do papado. A Bíblia ficava em um plano secundário, quando não completamente ausente ou desautorizada.

Martinho Lutero se encontrava perturbado com a situação da igreja na época, não encontrando paz em nenhum lugar, e não ser nas Sagradas Escrituras onde confessou: “A tua Palavra é a Verdade”, e “a Palavra de Deus, e ninguém mais, deve estabelecer artigos de fé”.

Em oposição à prática da igreja de subordinar a Bíblia à tradição, Lutero apresentou o “Princípio da Sola Scriptura”, a qual destinava-se a salvaguardar a autoridade das Escrituras Sagradas. O termo “Sola Scriptura”, é latino e literalmente significa a “Escritura Somente”. Com este princípio Lutero queria declarar que somente a Bíblia é o registro inspirado da revelação divina, e por isso é a única regra infalível de fé, na qual são fundamentadas todas as demais doutrinas cristãs.

Para Lutero a Bíblia podia ser entendida por si mesma, agindo cada pessoa como seu próprio interprete. Desse modo, as interpretações das tradições ou do clero não eram mais necessárias para a correta compreensão da Bíblia. A Palavra possui em si mesma a clareza externa que ela transmite. Logo, a Escritura, sem o acréscimo de mandamentos humanos e opiniões doutrinárias, é o único fundamento da fé.

A autoridade das Escrituras fundamenta-se em sua própria origem divina, ou seja, seu autor não é um grupo de homens, mas o próprio Deus. No entanto, a Bíblia foi escrita por homens inspirados por Deus (2 Tm 3.16). Isto significa que a palavra de Deus não é apenas refletida na Escritura através de palavras de homens, mas são de fato o falar de Deus ao homem. A Bíblia não necessita da aprovação da igreja para adquirir ou se tornar autoridade, pois isso é algo intrínseco, próprio dela.

Estimado leitor, observe como Martinho Lutero defendeu este princípio que somente a Bíblia e nada mais pode ser considerado artigo de fé e norma de vida cristã. Lembre-se que tudo mais que vai além das Sagradas Escrituras ou deturpa as claras doutrinas que nela estão escritas devem ser considerados preceitos humanos os quais em nenhum momento podem igualar-se à Palavra de Deus inspirada. Cabe, portanto, aos verdadeiros cristãos preservar esta autoridade que a Palavra de Deus possui, no sentido de testemunhar que a Bíblia por si só tem a mais elevada honra e glória, devendo ser não só respeitada por todos, mas também preservada e considerada Santa, coisa que é sem sombra de dúvida.

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